quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Desafio mostra alternativas para o transporte na cidade

tirado daqui ó:
http://www.tribunadobrasil.com.br/site/?p=noticias_ver&id=29276

Participantes percorreram 14 km usando diversos meios de locomoção

Marina Cardozo

Quem se atreveria a caminhar do Guará I até a Esplanada dos Ministérios? Os servidores públicos Luizalice Labarreli e Thiago Alves aceitaram a proposta. Os pedestres fizeram parte do 2º Desafio Intermodal de Brasília, realizado ontem de manhã. Além do percurso a pé, outras pessoas percorreram a distância de 14 quilômetros utilizando meios de transporte como bicicleta, carro, motocicleta, ônibus, patins e metrô. A atividade é relativa ao Dia Mundial sem Carro, comemorado amanhã (22).
O objetivo da prova é comparar os meios de transporte, considerando o tempo, custo, poluição e o nível de estresse dos participantes, para promover uma reflexão sobre o sistema de transporte da cidade. Para isso, alguns combinaram meios de locomoção, como bicicleta e metrô ou patins e metrô. Foram utilizados vários tipos de bicicletas, de modelos de corrida a dobráveis.
Para chegar ao Museu Nacional, os competidores puderam escolher o caminho. As alternativas foram pela Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e pela Estrada Parque Guará (EPGU). Semelhante à edição do ano passado, um motociclista foi o primeiro a concluir o trajeto. O estudante Vinicius Vianna demorou 22 minutos para chegar ao Museu. O caminho escolhido foi a EPGU, passando pelo Eixão Sul. Ele acredita que a velocidade da via, de 80 km, facilitou a vitória, além do tráfego pelos corredores. “Mas não mereço parabéns, afinal, as motos poluem sete vezes mais do que os outros veículos”, destacou. Vinicius opta pelo uso da bicicleta quando percorre curtas distâncias.
Pelo caminho, o motociclista encontrou a má conservação das vias, tráfego intenso e desrespeito dos motoristas de carro. “Fui fechado várias vezes ao longo do caminho. É uma guerra essa disputa por espaço. Se o motociclista não se impõe, acaba sofrendo um acidente”, afirmou.

Bicicletas
Os ciclistas chegaram em segundo lugar, à frente dos carros, ônibus e pedestres. O professor Daniel Mafra optou pela combinação da bicicleta dobrável e o metrô. Ele pedalou por cinco minutos da QI 7 do Guará até a Estação Feira. A surpresa foi poder embarcar em um trem mais vazio. Daniel desceu na Estação Central e pedalou da Rodoviária ao Museu. “Não tive dificuldade alguma. Eu recomendo essa alternativa porque a pessoa pode andar um trecho de ônibus ou até táxi”, sugere. O participante reclama do desrespeito ao ciclista. Considera andar de bicicleta em Brasília uma atividade perigosa. “São muitas reformas nas pistas, e isso contribui para o estresse dos motoristas e o comportamento agressivo. O respeito deixa a desejar”, acrescentou.
Uirá Lourenço conduziu a família em uma bicicleta. Ele conta que não possui carro por acreditar que a bicicleta é uma opção mais saudável e sustentável. O servidor público incentiva os dois filhos pequenos a pedalar, e protesta contra a falta de infra-estrutura que permita ao ciclista circular com mais segurança. “Brasília foi construída para se andar de carro. Mesmo em trajetos curtíssimos, as pessoas preferem usar os automóveis. Não existe um incentivo do governo para uma mudança de atitude”, reclamou.

Pedestres
Como já era esperado, os pedestres foram os últimos a cumprir o desafio. Luizalice Labarrère e Thiago Alves driblaram o tempo seco e seguiram a pé pela EPTG, em meio às obras de ampliação. Ao longo do trajeto, faltaram calçadas e respeito aos pedestres. A dupla demorou 2 horas e 39 minutos para chegar ao Museu. “Brasília está sufocada pela quantidade de carros e precisa de alternativas sustentáveis. Qualquer esforço que possamos fazer para alertar a população é bem vindo”, disse Luizalice.

Transporte Público
As constantes reclamações acerca do transporte público da cidade foram comprovadas por Bruno Aragão durante o desafio intermodal. Ele utilizou o ônibus coletivo para chegar ao Museu. Embora o tempo de espera tenha sido curto, apenas cinco minutos, não faltaram problemas na viagem: ônibus cheio, em mau estado de conservação e muita poluição. “O ônibus era muito velho e desconfortável. Não me senti seguro”, revelou. Bruno levou 38 minutos para concluir o percurso. Ele atribuiu o tempo à sorte de conseguir pegar o ônibus com rapidez. No ano passado, ele demorou uma hora a mais, em decorrência da espera pelo coletivo. O participante considerou como ponto positivo em utilizar os ônibus a tranquilidade de não dirigir.
A Organização Não-Governamental Rodas da Paz também contribuiu com o evento. A vice-presidente Beth Davison usou o metrô como meio de transporte. Em 2006, Beth perdeu o filho, vítima de acidente trânsito. Pedro Davison andava de bicicleta no Eixão quando foi atropelado por um carro. A tragédia a motivou a engajar-se com ações em prol da segurança no trânsito e o respeito ao ciclista. “Só ando de bicicleta perto de casa. Tenho medo de pedalar em Brasília”, afirmou.

Infraestrutura
A participação do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do DF (Ibram) foi reforçada com a presença do presidente, Gustavo Souto Maior. Ele usou a bicicleta como meio de transporte e ressaltou que as alternativas sustentáveis melhoram o tráfego e contribuem com a saúde da população. “Não ando de bicicleta para trabalhar porque o motorista é muito hostil com o ciclista. Achei o percurso perigoso, principalmente por causa do comportamento dos motoristas de ônibus”, comentou. Souto observou que a falta de sinalização e de ciclovias deixam os ciclistas mais vulneráveis a acidentes.
O presidente do Ibram destacou, ainda, que as obras que visam apenas a infra-estrutura viária, como o alargamento de vias e construção de viadutos, facilitam o uso dos automóveis e desestimulam o uso da bicicleta ou do transporte público. A facilidade na aquisição de carros também o preocupa. “Brasília está na contra-mão do planeta ao incentivar o uso do carro”, disse.
Ao contrário da maioria, Danilson Ramos participou do desafio de automóvel. Após o percurso de 38 minutos, ele apontou o conforto como vantagem e o tráfego intenso como dificuldade deste meio de locomoção. “Levei umas fechadas de outros motoristas. Isso mostra que não é uma exclusividade dos motoqueiros”, informou. Danilson conta que anda de bicicleta quando é possível. Mas no dia a dia precisa do carro para carregar materiais do trabalho e da faculdade.
Wallace Paschoal representou as pessoas com deficiência. Ele e Anderson Polissene pedalaram em uma bicicleta dupla, que exige equilíbrio e coordenação dos movimentos entre a dupla. “Pode ser perigoso, mas se pensasse assim nem sairia de casa”, acredita. Wallace tem 52 anos e é cego há quatro. A bicicleta é conduzida por Anderson, enquanto o parceiro pedala sentado no banco traseiro. Segundo Wallace, falta respeito por parte da população com as pessoas com deficiência nos meios de transporte coletivo.

Dia sem carro
A proposta do Dia Mundial sem Carro é sensibilizar a população para o uso de meios alternativos de transporte. De acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), em abril deste ano a frota de veículos no Brasil ultrapassou 35 milhões de automóveis. O Desafio Intermodal fez parte da Semana da Mobilidade, que realizará ainda uma exposição na Câmara dos Deputados, uma mesa redonda na Controladoria Geral da União (amanhã, às 14h30) e um passeio ciclístico promovido pela ONG Rodas da Paz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário