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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

“Daqui a 20 anos, Brasília será como São Paulo”

Professor de geografia prevê que a urbanização acelerada vai transformar a capital federal em uma grande metrópole rodeada

Uma capital em processo de mudança em sua estrutura física e ambiental. É assim que o professor de Geografia da Universidade de Brasília Aldo Paviani define as recentes transformações em Brasília. “O cinturão verde previsto por Lúcio Costa já não se vê mais. Em 20 anos, Brasília será uma São Paulo”, comparou. A palestra de Paviani fez parte do Seminário Brasília 50 anos: da capital à metrópole, realizado nesta sexta-feira, 2 de outubro, no Auditório da Reitoria. Todas as discussões do encontro que reuniu 15 pesquisadores serão transformadas em um livro da Coleção Brasília, publicada pela Editora UnB.

O crescimento vertiginoso da população, a ocupação de áreas cada vez mais afastadas do centro e os problemas de gestão do território foram os principais temas abordados no encontro. Na opinião de Paviani, os governos do Distrito Federal e de Goiás têm que estabelecer um compromisso de ter uma metrópole funcional, com gestão compartilhada.

Pesquisa do professor de Arquitetura Benny Schvasberg mostra que o crescimento urbano na capital federal se dá de forma polinucleada (com vários núcleos), com distâncias enormes separando as cidades do centro (Plano Piloto). Ele critica a inexistência de diálogo entre o modelo territorial do DF e os planos diretores de municípios goianos. “São poucos os esforços de articulação, como consórcios intermunicipais para prestação de serviços públicos como coleta de lixo, abastecimento de água e transporte”, observou.

Para ele, o grande desafio está na construção e na implementação de um novo modelo de gestão e de planejamento metropolitano. Schvasberg aponta três atores como responsáveis por promover mudanças: movimentos ambientais, movimentos populares de luta pela moradia e partidos políticos. “Há uma lacuna na política urbana brasileira. É preciso enfrentar a cultura municipalista para se chegar a uma gestão metropolitana com visão de desenvolvimento integrado”, completou.

CONDOMÍNIOS - A professora de Antropologia Cristina Patriota, por sua vez, lançou um novo olhar sobre os condomínios horizontais do DF. Ela afirmou que o conceito foi generalizado para qualquer tipo de ocupação irregular do solo. “A proliferação de condomínios influi no debate sobre a capital. Já se fala que 25% da população do DF vive nesses locais, que são sinônimos de parcelamentos irregulares. Precisamos entender o que a população chama de condomínios: se são clubes, favelas ou cidades”, questionou.

A antropóloga fez uma pesquisa etnográfica em lugares como Vicente Pires, Grande Colorado e áreas de baixa renda na Ceilândia. Ela constatou que os condomínios horizontais seguem uma tendência global de expansão de áreas residenciais, mas no DF se diferem em sua forma e estrutura. “Há uma confusão no conceito. No Lago Sul, por exemplo, os espaços são exclusivos, com áreas verdes, lazer, bens e serviços coletivos. Já na Ceilândia, os locais são de baixa renda e sem infraestrutura”, destacou.

Joana Wightman - Da Secretaria de Comunicação da UnB
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=2417

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cidades em Colapso

Uma cidade flexível, repleta de parques por diversos bairros, transporte fácil e qualidade de vida acessível a todos os habitantes. Essa metrópole ideal, imaginada pelo arquiteto Christian de Portzamparc, é quase uma utopia, frente aos graves problemas enfrentados por locais tão diversos como São Paulo, Paris e Pequim.

"Paris, assim como São Paulo, está à beira do colapso", afirma Portzamparc, 65, o principal arquiteto em atividade na França e ganhador do Prêmio Pritzker (o Nobel da arquitetura), no ano de 1994.

"Quando eu falo na França que Paris vive os mesmos problemas de São Paulo, as pessoas acham que é um exagero, mas não é", diz ele. "As metrópoles são fenômenos novos. Suas dificuldades devem ser enfrentadas de novas maneiras."

À frente de um dos dez escritórios de arquitetura contratados pelo governo Sarkozy para reformular o urbanismo da Grande Paris em um período de 20 a 40 anos (leia mais ao lado), Portzamparc esteve em Brasília na segunda e na terça para participar de seminário internacional sobre as metrópoles.

De lá, pela TV, viu o caos que se abateu sobre São Paulo após temporal, na terça. "É uma situação esperada. Privilegiar grandes vias expressas [como as marginais] e o transporte individual termina por criar coisas desse tipo."

Para Portzamparc, as grandes avenidas criam, pouco a pouco, bairros-enclaves, que não se relacionam com o restante da cidade de forma sustentável. "Em Paris, por exemplo, essa circulação expressa cria setores segregados. Isso cria espaços sem futuro, que vivem unicamente de um tipo de atividade. Uma cidade sustentável tem de ser flexível."

Por isso, o arquiteto observa semelhanças entre as atuais configurações da capital francesa e seus arredores e da Grande São Paulo. "A separação física e social, os problemas gerais de transporte, resultaram, em 1995, na grande onda de violência pela qual passaram Paris e outras cidades francesas. São Paulo não passou por isso, mas também vive um problema grave de circulação."

Pequim, que o urbanista visitou recentemente, também está optando por um modelo errado, segundo ele.

"É uma loucura, eles têm seis ou sete autoestradas periféricas e não investem nada em transporte público. Por que não? Porque todas as indústrias automobilísticas estão lá e vão investir em décadas de crescimento do mercado automobilístico na China, uma coisa imensa."

Soluções

O conceito de cidade flexível proposto por Portzamparc para Paris reinventa uma antiga ideia sua, a de quadra aberta, junto de grandes intervenções sobre o tecido urbano da capital e seus arredores.

O plano cria "arquipélagos" verdes, parques espalhados por diversas regiões e espaços ociosos de linhas férreas.

Transporte coletivo é outro foco do programa, com a construção de um monotrilho (espécie de metrô) sobre o atual anel periférico da Grande Paris, além de outras linhas para integrar todas as cidades.

"Falo em quadras abertas há 20 anos, cujo centro é a rua, uma invenção extraordinária. Temos de revalorizar a rua, que é a verdadeira organização espacial de democracia, onde pobres e ricos andam lado a lado."

Brasil

Fascinado pela arquitetura brasileira feita por nomes como Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy (1909-1964, que projetou o MAM Rio), "a melhor do mundo quando a estudava na adolescência, nos anos 60", Portzamparc diz que espera que seu projeto no Rio, a Cidade da Música, seja concluído no final do ano que vem.

"Seria uma coisa desastrosa se não a finalizassem. Existem detalhes de acústica muito específicos que devem ser seguidos. O público de um concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira e da Osesp, por exemplo, merece receber um bom som."


Editoria de Arte/Folha Imagem


Matéria publicada na Ilustrada de 12 de stembro
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u622924.shtml