segunda-feira, 7 de junho de 2010

Notícia (Trânsito no DF): Aumento de mortes em comparação com 2009

Trânsito
Em três meses, 109 mortes

De janeiro a março deste ano, o número de vítimas de acidentes nas ruas do DF aumentou 10% em relação ao mesmo período de 2009. Segundo o Sindicato dos Servidores do Detran, faltam fiscalização, campanhas educativas e pessoal

· Adriana Bernardes


A violência no trânsito volta a dar sinais de alerta no Distrito Federal. No primeiro trimestre deste ano, 109 pessoas perderam a vida, 10,1% a mais do que no mesmo período do ano passado, quando ocorreram 99 mortes. A comparação dos acidentes fatais também revela aumento. Os registros saltaram de 92 para 100 casos, ou seja, 8,6% a mais este ano na comparação com 2009.

As estatísticas revelam ainda que janeiro de 2010 foi o pior dos últimos 14 anos em se tratando de acidentes fatais e que o número de mortos só não bateu o recorde de 2005. Apesar da trégua observada nos dois meses seguintes — fevereiro e março —, isso não foi suficiente para fechar o primeiro trimestre com saldo positivo em relação a 2009.

Morador de Planaltina, o comerciante Paulo Renato Oliveira, 45 anos, perdeu um amigo recentemente vítima de acidente. Para ele, muitas vidas seriam poupadas se os motoristas tivessem mais atenção e dirigissem mais devagar. “Eu já me envolvi em acidente duas vezes. Nas duas, estava desatento, com a cabeça em outro lugar. Por sorte, não me feri nem matei ninguém. Mas depois desses sustos, fiquei mais cauteloso”, diz.

Atenção e prudência salvam vidas mas, na avaliação do presidente do Sindicato dos Servidores do Detran, Eider Marcos Almeida, o aumento dos acidentes e das mortes tem outras causas. No caso de Brasília, faltam fiscalização e campanhas educativas. Segundo ele, desde o fim do ano passado, o Detran está sem contrato com agência de publicidade para executar as campanhas educativas. “Pelo que me recordo, a última foi na semana nacional de trânsito, em setembro. Depois disso, não lembro de ver mais nada”, diz.

Ideal distante
No que diz respeito à falta de fiscalização, o sindicalista denuncia a carência de profissionais. Atualmente, o Detran tem 305 agentes, dos quais 80 trabalham na vistoria. Os 225 restantes ficam encarregados de fazer as blitzes e campanhas educativas nas ruas. “Segundo um estudo do Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada), o ideal é que tenha um fiscal para cada mil veículos. No DF, temos 1.170.558 veículos. Portanto, precisaríamos de 1.170 agentes de trânsito. Com o quadro atual, não há como executar um serviço eficiente na fiscalização e na educação”.

Segundo Eider Marcos, desde 2003, o Detran não faz concurso público para agente. O edital do ano passado foi para preenchimento de vagas de assistentes e analistas de trânsito. “Nosso quadro é o mesmo de 15 anos atrás. Mas a frota, os habilitados, a população e a malha viária aumentaram muito. Pode observar que o maior número de mortes ocorre nas cidades mais distantes, onde estamos mais ausentes”, explica.

Na última quarta-feira, o governador Rogério Rosso entregou 30 carros novos ao órgão, um reforço para a fiscalização, que atualmente conta com 50 veículos. Mas, segundo o Sindetran, a maior parte dos veículos é para substituir os que estão sucateados. Foram investidos R$ 1.345.842,50 na compra, na caracterização e na equipagem dos automóveis. No evento, Rosso se comprometeu a realizar concurso público para agente de trânsito. Mas não disse para quando. Em ano eleitoral, se não houver autorização anterior, não há como fazer seleções públicas para contratação de pessoal.


Memória

Rafael Ohana/CB/D.A Press - 18/2/10


18 de fevereiro


25 de março
Divino Alves Ferreira, 69 anos, morreu ao ter a bicicleta atingida por um veículo. O acidente foi na BR-070, na M Norte, em Taguatinga.

12 de março
Um acidente entre dois carros na BR-070, perto de Taguatinga, matou Raimundo Alves da Silva Filho, 44 anos.

6 de março
O motociclista André Luiz de Oliveira, 33 anos, morreu após ser atingido por uma Kombi que, segundo a polícia, era conduzida por um motorista alcoolizado.

18 de fevereiro
O engavetamento na BR-020 envolvendo um caminhão e seis carros tirou a vida de Raimunda Gonçalves da Silva, 68 anos. Ela teve fraturas múltiplas e hemorragia interna, foi socorrida, mas não resistiu.

16 de fevereiro
Na DF-001, perto da barragem do Paranoá, um veículo com três jovens bateu em uma pedra na beira da pista. Jackson Aguiar da Cruz, Jonas Fernandes da Silva e Lúcio Fernandes de Oliveira Rodrigues, os três com 19 anos, morreram na hora.

28 de janeiro
A colisão entre dois carros na DF-180 matou Cristiano Pereira de Oliveira, 25, anos, Daniela dos Santos Rabelo, 26, e Tiago Silva Aguiar,21.

23 de janeiro
Duas pessoas morreram em acidentes na rodovia BR-020. Pedro Gomes dos Santos, 31 anos, foi atropelado quando tentava atravessar a rodovia, na altura do km 13, entre Planaltina e Sobradinho. E o bombeiro Márcio Bomtempo caiu da sua motocicleta na altura do Km 10. Ele morreu na hora.

Trânsito
Onde o perigo é maior

Taguatinga, BR-070 e DF-001 são os locais em que mais se registraram acidentes fatais no primeiro trimestre do ano

· Adriana Bernardes

Fotos: Valério Ayres/Esp. CB/D.A Press


Para Flávia Oliveira, a Avenida Hélio Prates, em Taguatinga, oferece riscos a motoristas, motoqueiros e pedestres


O mapa dos acidentes fatais no Distrito Federal aponta para o risco maior em Taguatinga e Planaltina, com sete e cinco casos respectivamente nos três primeiros meses deste ano. Entre as rodovias federais, a BR-070, que leva a Águas Lindas (Goiás), lidera o ranking. Já nas rodovias distritais, a que tem mais acidentes com morte é a DF-001, seguida da DF-003 (Estrada Parque Indústria e Abastecimento, a Epia). A maior parte dos endereços da morte são velhos conhecidos dos órgãos de trânsito e, mesmo assim, as pessoas continuam morrendo nesses locais. É o caso de Taguatinga e da DF-003. Elas aparecem entre os endereços mais violentos nos boletins de 2008, de 2009 e também no boletim parcial deste ano.

Em Taguatinga, a Avenida Hélio Prates foi a que teve o maior número de acidentes com feridos em 2008. Na tarde da última quarta-feira, a reportagem percorreu o trecho e constatou travessias arriscadas de pedestres entre os carros e fluxo intenso de veículos. A estudante de administração Flávia Oliveira, 30 anos, diz que os acidentes são frequentes, especialmente na altura da Feira dos Goianos e às quartas-feiras, quando o comércio no local é intenso. “Por aqui, não tem faixa de pedestre. As pessoas atravessam entre os carros e acabam atropeladas por motoqueiros que fazem corredor”, comenta.

Entre as rodovias distritais, a DF-001 é a que tem o maior número de acidentes fatais. Uma das explicações é o tamanho da via: uma das mais extensas da capital, nela circula boa parte das cidades do DF, tanto que é batizada de Estrada Parque Contorno. “A quantidade de carros é imensa. Todo mundo apressado para chegar em algum lugar. O que a gente vê de barbaridade não está escrito em lugar nenhum. E não tem agente de trânsito fiscalizando nos horários de maior movimento”, critica o estudante de Direito Marcelo Novaes Branco, 26, morador do Recanto das Emas.

Causas
Diretor de Segurança do Trânsito do Detran, Silvain Fonseca aponta várias razões para o aumento dos acidentes e das mortes no DF este ano. Segundo ele, janeiro foi o pior mês dos últimos anos porque boa parte dos agentes estava de férias e a fiscalização arrefeceu. “Desde a lei seca (que entrou em vigor em junho de 2008), vínhamos em um ritmo acelerado de operações e, com isso, adiamos as férias e os abonos. Quando chegou janeiro, não podíamos adiar mais, caso contrário, estaríamos descumprindo a lei”, informou.

A falta de servidores denunciadas pelo Sindetran é confirmada por Fonseca. Segundo ele, para atender a demanda do DF seria preciso preencher pelo menos os 700 cargos previstos, mas o ideal é que o Detran tenha mil agentes. “Com poucos agentes de trânsito, temos que reduzir o número de fiscalizações, especialmente em algumas cidades, como Ceilândia. Em algumas regiões administrativas, é comum abordarmos bandidos, pessoas armadas e sem o porte obrigatório. Para garantir a nossa segurança, montamos operações com mais agentes e isso descobre outras áreas”, explica.

Estudos
Fonseca lembra ainda que, este ano, há 100 mil veículos a mais circulando no DF. O número de condutores aumentou em 200 mil entre o primeiro trimestre de 2009 e o mesmo período de 2010. “Apesar de tudo isso, o DF é a unidade da Federação que mais aborda veículos no país. Isso contribui para que tenhamos conseguido estabilizar o número de mortes e acidentes nos últimos anos”, analisa.

O setor de estatística do Detran está levantando as causas das mortes no trânsito. Uma equipe do órgão vai até o local e verifica as condições da via, a sinalização, o comportamento dos motoristas e dos pedestres. O resultado de uma dessas visitas resultou no que Fonseca chama de canalização de pedestres na avenida central de Taguatinga. Apesar da faixa e do semáforo, as pessoas insistiam em atravessar entre os carros, elevando o número de mortes. O Detran instalou um grade de proteção que obriga o pedestre a atravessar no semáforo. A estrutura fica em frente ao Taguatinga Trade Center.

Com poucos agentes de trânsito, temos que reduzir o número de fiscalizações, especialmente em algumas cidades, como Ceilândia. Lá, é comum abordarmos bandidos, pessoas armadas e sem o porte obrigatório. Para garantir a nossa segurança, montamos operações com mais agentes e isso descobre outras áreas”

Silvain Fonseca, diretor de Segurança do Trânsito do Detran

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