quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Entre janeiro e outubro, brasilienses compraram um carro a cada 4 minutos

do Correio.

Entre janeiro e outubro, brasilienses compraram um carro a cada 4 minutos
A frota brasiliense, com mais de 1,2 milhão de automóveis, ganhou o reforço de 96.265 unidades 0km. Confirmadas as previsões do setor, até dezembro outras 17 mil estarão nas ruas da capital federal

Diego Amorim

Publicação: 10/11/2010 08:46 Atualização: 10/11/2010 08:48

Quando quita um carro, a advogada Ana Flávia compra outro novo: 'O crédito farto permite isso' (Fotos: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
Quando quita um carro, a advogada Ana Flávia compra outro novo: "O crédito farto permite isso"
Haja rua para tanto carro. Dados obtidos com exclusividade pelo Correio reforçam que a volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) não arrefeceu a venda de veículos novos no Distrito Federal. Nos primeiros 10 meses do ano, 96.295 automóveis deixaram os pátios das concessionárias, segundo o balanço mais recente do sindicato do setor. Equivale dizer que um carro foi vendido a cada quatro minutos e meio — isso se as lojas funcionassem 24 horas, de segunda a segunda.

Em 2009, 113.686 veículos novos ganharam as vias da capital federal. A frota atual, segundo o Departamento de Trânsito (Detran), ultrapassa 1,2 milhão. Em ritmo frenético, as concessionárias devem comemorar ao fim deste ano o melhor desempenho da história. Serão pelo menos mais 17 mil carros rodando em Brasília até dezembro, caso se confirmem as previsões do setor. A ordem é bater recordes nos próximos dois meses.

No mês passado, o total de unidades comercializadas chegou a 10.414. Houve um recuo de 2,6% na comparação com setembro e de 7,2% em relação a outubro passado. Mesmo assim, as vendas contribuíram para que o acumulado do ano registre, até aqui, um avanço de 0,8% ante o mesmo período do ano passado. A tendência, sustenta o presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do DF (Sincodiv-DF), Ricardo Lima, é que os números de 2010 superem os de 2009.

Tradicionalmente, muita gente pensa em trocar de carro no fim do ano. E com o 13º salário na conta, fica mais fácil tomar a decisão. “Mesmo tendo como referência um ano extraordinário como 2009, por conta do IPI reduzido, provavelmente vamos vender mais este ano”, comenta Lima, antes de lembrar que o consumo de veículos no Brasil só não é maior do que na China, nos Estados Unidos e no Japão. “E em 2011, não restam dúvidas, vamos continuar crescendo”, acredita.

O bom momento da economia brasileira, associado ao crédito em abundância e às facilidades de pagamento, deixa eufóricos vendedores e clientes. Em meia hora — ou antes disso — o cadastro é aprovado e o interessado pode levar para casa um veículo parcelado em até seis anos, sem nada de entrada. “As montadoras estão oferecendo bonificações agressivas. Ninguém no mercado está disposto a perder venda”, comenta Estenio Costa, gerente da Bravesa, concessionária da Volkswagen.

Brindes
Desde janeiro, 10 novas lojas de veículos abriram as portas no DF: já são 83 no total. A cada ano, mais marcas expandem seus negócios na capital do país, apostando no potencial de compra do brasiliense. Em média, 75% dos carros vendidos em Brasília são financiados. As taxas de juros do mercado têm variado entre 0,99% e 1,70%. Os brindes — emplacamento, IPVA, conjunto de tapetes, som, frisos — viraram itens obrigatórios na negociação. “Se não oferecer nada, o cliente não leva”, conta Costa.

A advogada Ana Flávia Almeida, 31 anos, levou um Voyage ontem, com brindes inclusos. Será o segundo carro financiado da família. “É assim: quando termina de pagar um, compro outro. O crédito farto permite isso”, avalia ela, que conseguiu diminuir o valor inicial do carro em R$ 3 mil, após pesquisar preço em três concessionárias.

Depois de perder o carro em um acidente, André Di Macedo adquiriu um zero, financiado em 36 parcelas: 'É muito fácil comprar carro hoje' (Fotos: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
Depois de perder o carro em um acidente, André Di Macedo adquiriu um zero, financiado em 36 parcelas: "É muito fácil comprar carro hoje"
O produtor de eventos André Di Macedo, 28 anos, também está rodando na cidade de carro novo. Ele bateu o antigo, que teve perda total. Depois do susto, ao fazer as contas com o seguro, optou por comprar um 0km. “É muito fácil comprar carro hoje. Parcelei em 36 vezes e o valor cabe no meu orçamento”, diz Macedo. Especialistas em educação financeira costumam lembrar que os gastos com veículo não se resumem ao financiamento. Acumulam-se despesas com seguro, IPVA, revisão e manutenção, combustível, estacionamento.

Antes de chegar ao fim do ano em clima de festa, as concessionárias passaram por momentos de indefinição ao longo de 2010. Com a volta do IPI, em abril, o movimento nas lojas diminuiu, como era de se esperar. Ninguém arriscava dizer como seria o desempenho no segundo semestre. “O que vemos hoje é uma certa estabilização, porque ainda estamos retomando as vendas. A expectativa maior é, de fato, com novembro e dezembro”, pondera Alexandre Sena, gerente da Jorlan, da General Motors.

Projeção
De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado no fim do mês passado, o montante injetado na economia local com o 13º salário em 2010 será de R$ 4,15 bilhões, um volume 24% superior ante 2009. Cerca de 1,4 milhão de trabalhadores serão beneficiados.

Desoneração
Com a crise econômica mundial no fim de 2008, o governo federal decidiu reduzir o IPI para estimular a venda de carros novos. A desoneração deveria ter acabado em dezembro passado, mas foi prorrogada até março deste ano com a intenção de manter o mercado aquecido. Montadoras pressionam o governo para que a redução seja definitiva para modelos flex.

Palavra de especialista
Alto risco de desconforto


“Os números revelam a velha ideia do sonho americano, em que cada um corre atrás do seu sonho individual, no caso o carro. Essa tendência moderna de individualização deixou de ser uma boa. Estamos todos parados nos engarrafamentos por esse motivo. Em países da Europa, as pessoas já perceberam isso. Aqui, ainda não. O transporte individual, obviamente, ocupa mais espaço nas ruas. E em Brasília é muito difícil ver algum veículo com mais de dois ocupantes. É preciso mudar o raciocínio de transporte e o padrão do transporte coletivo. As pessoas compram carros porque não confiam no transporte coletivo. Se nada for feito, em menos de 10 anos estaremos numa situação pior que a de São Paulo. E rodízio não será solução, como não foi na capital paulista.”

Flávio Dias, professor do Centro Interdisciplinar de Estudos em Transportes da Universidade de Brasília (Ceftru/UnB)

Mercado aquecido

Vendas em 2010

Janeiro - 6.753
Fevereiro - 7.569
Março - 12.378
Abril - 10.408
Maio - 8.118
Junho - 8.674
Julho - 10.001
Agosto - 11.287
Setembro - 10.693
Outubro - 10.414

Acumulado do ano (janeiro-outubro)
2003 - 32.076
2004 - 37.683
2005 - 41.165
2006 - 52.975
2007 - 69.996
2008 - 81.591
2009 - 95.523
2010 - 96.295

Ranking da preferência (janeiro-outubro)

Fiat - 26.266
Volkswagen - 20.903
General Motors - 13.269
Ford - 7.553
Renault - 5.021
Honda - 4.207
Hyundai - 3.583
Toyota - 2.905
Citroën - 2.431
Peugeot - 2.297

Fonte: Sincodiv-DF

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