Trânsito do DF caminha rumo a um colapso e é desafio para o próximo governo
Congestionamentos, acidentes e baixo número de fiscais são alguns dos problemas que aumentam à medida que a frota se multiplica no DF. Se o atual ritmo de crescimento continuar, em 2017, a capital contará com nada menos que 2 milhões de veículos Helena Mader
Publicação: 08/12/2010 07:26 Atualização:
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Atualmente, estão registrados na capital do país 1,22 milhão de veículos: engarrafamentos cada vez mais comuns |
Todos os meses, 5 mil brasilienses são habilitados para conduzir nas ruas da cidade e 10 mil novos carros entram em circulação. Esse número crescente de motoristas e veículos pode ser notado com facilidade: as vias do Distrito Federal estão cada vez mais congestionadas. Com a ampliação da frota, os acidentes fatais também se multiplicam. Mesmo com a lei seca e as blitzes frequentes, a quantidade de vítimas do trânsito voltou a crescer em 2010, depois de um longo período de queda. De janeiro a outubro deste ano, 364 brasilienses perderam a vida em colisões e atropelamentos. Para especialistas, é preciso investir maciçamente em educação e fiscalização para acabar com a violência no trânsito. Soma-se a isso a necessidade de investimentos em obras viárias e em transporte público para evitar que o tráfego da capital federal pare.
Em 2008, a frota de Brasília chegou a um milhão de carros. De lá para cá, mais de 222 mil veículos foram emplacados pelo Departamento de Trânsito do DF (Detran). Se o ritmo de crescimento anual continuar equivalente ao registrado na última década — 7,5% ao ano em média — em 2017, a frota da capital federal vai chegar a 2 milhões de carros. Sem soluções efetivas para o problema, o trânsito vai parar muito antes disso. Somente uma melhoria efetiva dos transportes públicos, que convença os motoristas brasilienses a deixar seus carros em casa, vai melhorar a fluidez nas ruas do DF.
O crescente número de veículos aumenta também a dificuldade de fiscalizar as pistas brasilienses. Para controlar a frota atual e diminuir o risco de acidentes, seriam necessários 1,2 mil agentes — um para cada mil carros. Mas hoje, somando o efetivo do Detran, do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), são apenas 800 agentes em atuação na vias da capital federal. É preciso incrementar em quase 50% o total de fiscais nas ruas para atender a demanda.
O diretor de Segurança do Detran, Silvaim Fonseca, defende mais autonomia como solução para os problemas. “Os órgãos de trânsito precisam ter mais autonomia administrativa e financeira para tocar os projetos e contratar um efetivo compatível com as necessidades de fiscalização e de realização de campanhas.”
Silvaim Fonseca lembra que os investimentos em segurança de tráfego representam também um ganho para a saúde pública. Os pacientes acidentados normalmente são mais graves e passam mais tempo internados nos hospitais. “Fizemos um levantamento que mostrou que cerca de 50% dos leitos são ocupados por pessoas que sofreram acidentes de trânsito. De acordo com o Ipea, um paciente pode custar mais de R$ 180 mil, tirando os gastos com reabilitação”, justifica o diretor
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Raí mora em Valparaíso: uma hora dirigindo até chegar ao trabalho, na L2 Sul |
de Segurança do Detran. “Além disso, nossas operações contribuem para a segurança pública, já que, durante as blitzes, identificamos foragidos, carros clonados e outros problemas”, finaliza.
EducaçãoPara a especialista em engenharia de tráfego e segurança de trânsito Eva Vider, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é preciso melhorar os transportes públicos, a engenharia das vias, a sinalização e a fiscalização. “O futuro governo tem como grande desafio reduzir os acidentes. Para isso, é preciso atuar firmemente na implantação de programas e na liberação de recursos destinados a programas de segurança no trânsito”, diz. “O número de carros e de motoristas cresce muito e é necessário preparar os futuros condutores. O trabalho de fiscalização deve ser aliado à educação, para que haja conscientização efetiva.”
A operadora de telemarketing Ângela Vieira, 23 anos, mora no Núcleo Bandeirante e trabalha na Asa Norte. Ela leva cerca de meia hora para fazer o trajeto entre sua casa e o escritório. Para tentar reduzir o tempo do percurso, Ângela está sempre em busca de alternativas. “Às vezes, saio um pouco mais cedo, ou um pouco mais tarde, para tentar escapar. Mas já desisti, sempre pego engarrafamento”, lamenta. Apesar dos transtornos, ela não cogita deixar o carro em casa, pois diz que, se fosse de ônibus, o trajeto seria mais demorado.
Para o representante de vendas Raí Lopes Araújo, 27 anos, o tempo gasto com deslocamento é bem maior. Ele leva cerca de uma hora entre Valparaíso, na divisa do DF com Goiás, e a L2 Sul. “O trânsito fica mais complicado na entrada do DF, perto de Santa Maria. Daí em diante, se não tiver acidente, o tráfego até que flui, dependendo do horário”, conta.