sexta-feira, 10 de abril de 2009

Pedala-DF: verdade x mito

10 de abril de 2009
Pedala-DF: Promessas, fatos e propaganda
Texto e fotos: Uirá Lourenço


O Pedala-DF é o programa cicloviário criado pelo Governo do Distrito Federal. Com o intuito de promover o transporte por bicicleta, ele tem a meta de criar, até 2010, 600 km de ciclovias.
O sítio do Pedala-DF (http://www.pedala.df.gov.br/) expõe de forma clara a promessa: “Nossa meta é construir, até 2010, a maior malha cicloviária da América Latina, com 600 km de extensão. É muito mais mobilidade, segurança e qualidade de vida para a população.”
Até abril de 2009, foram inaugurados apenas 42 km de ciclovias, 7% do total previsto. Ou seja, ainda faltam 558 km, a serem construídos até o próximo ano.
No dia 22 de março, antes do início da prova Audax 200 em Brasília, foram distribuídos a todos os inscritos dois panfletos do programa cicloviário. Segundo o material impresso, “os acostamentos do Lago Sul e do Lago Norte receberam uma sinalização especial para aumentar a segurança dos ciclistas.”


O texto prossegue: “Os acostamentos receberam marcações vermelhas no piso sempre antes e depois de zonas compartilhadas com automóveis (nas entradas e saídas de quadras e comércios) e com ônibus (nos pontos de ônibus).”




Capa de um dos panfletos distribuídos.


Texto e ilustração dos panfletos.

Apesar de não ser morador dos bairros mencionados, passo eventualmente pela região e havia pedalado por lá no dia do Audax, já que o trajeto incluía as vias do Lago Sul e do Lago Norte. Não havia notado diferença na sinalização dos acostamentos, além das palavras quase apagadas “Atenção Ciclistas”, pintadas em alguns pontos.
De qualquer forma, pedalei na via que percorre o Lago Norte, no dia 09 de abril, e na região do Lago Sul, no dia seguinte. A intenção era encontrar os acostamentos com sinalização especial – marcações vermelhas.



Após vários quilômetros percorridos sob sol forte, eis o resultado:

- LAGO NORTE





Acesso a comércio sem sinalização especial.




Palavras pintadas no acostamento estão apagadas. Supõe-se que as palavras fossem “Atenção Ciclistas”.



Acostamento, calçada e parte de uma das faixas de rolamento bloqueadas por um caminhão.




Falta de sinalização em acesso a quadra residencial causa conflito entre motorista e ciclista.



Drenagem ruim dificulta o tráfego de ciclistas pelo acostamento.




Um dos ciclistas observados durante o percurso. Muitos utilizam bicicleta como meio de transporte.



Uso infantil de bicicletas reforça a importância de investimento em segurança e respeito no trânsito.



Bicicletas estacionadas em árvores ao longo da via confirmam a presença de ciclistas e
a necessidade de investimento em infraestrutura cicloviária.



- LAGO SUL




Buracos, desníveis e falta de qualquer tipo de sinalização no acostamento da via que percorre o Lago Sul.



Crateras presentes no acostamento contrastam com as boas condições da recente pavimentação da pista.


Sinalização horizontal apagada.




Mais um trecho de acostamento em péssimas condições e sem qualquer
sinalização, em contraste com o asfalto liso e as faixas pintadas da pista.


Ponto de ônibus sem marcações vermelhas e com água empoçada em dia ensolarado.




Acesso a um centro comercial sem sinalização especial.


Acostamento com buracos, poças d’água e brita, que dificultam e até impedem o tráfego de bicicletas.



Acesso sem qualquer tipo de sinalização especial para advertir motoristas quanto à presença de ciclistas.



Com base nas pedaladas e no registro fotográfico feito no local, conclui-se que o material impresso, publicado e distribuído pelo GDF, divulgou informações falsas, uma autêntica propaganda enganosa. A despeito da necessidade de maior segurança aos atuais e futuros ciclistas do Distrito Federal – em 2008, 54 ciclistas morreram nas vias do DF –, os acostamentos não receberam sinalização especial. Nas regiões do Lago Norte e do Lago Sul, não há sinalização horizontal nem vertical voltadas aos ciclistas. Sobram buracos, água empoçada e desníveis nos acostamentos.






10 comentários:

  1. Parabéns Uirá.

    Muito bacana o texto.
    O pedal valeu mesmo a pena!!!!

    Gostaria de ver o que o GDF tem a dizer sobre isso!!!!

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  2. Parabéns pelo trabalho de verificação. De fato, não há rigorosamente nada nas vias do Lago Norte que sugira aos motoristas a utilização ciclável do acostamento. As poucas mensagens de "atenção" foram feitas há tempos e já estão apagadas. E mesmo que o GDF tivesse providenciado a "sinalização especial em vermelho", pouco efetivo seria sem INSTRUIR os motoristas sobre seu significado.

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  3. Muito boa a crítica!
    com boa vontade e INTELIGENCIA do governo do Distrito Federal, poderiam tornar muitos dos acostamentos em ciclovias de qualidade, com mínimo investimento e em curto espaço de tempo.
    No caso dos acostamentos do Lago Sul e Norte, por exemplo, seria interessante colocar tachões no limite entre a pista de rolamento de automóveis e o acostamento. Em muitos lugares, a pista é praticamente uma coisa só (pista e acostamento), com mera demarcaçao dos limites feitos com tinta. Ora, se o motorista se distrair (ao celular, por exemplo) somente perceberá que está no acostamento se bater em algo (como aconteceu, tragicamente, há algum tempo atrás, com os dois rapazes atropelados no lago norte).

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  4. Boa matéria!! Só para apimentar essa questão dos 600km de ciclovia. Vai haver ligação entre as ciclovias? Ex.: Um ciclista que mora em Samambaia vai conseguir pedalar com segurança até o plano piloto via ciclovia? Será que adianta ter ciclovias em ilhas? Ciclovias no Varjão, Lago, Taguatinga, Samambaia estarão interligadas para que de segurança aos ciclistas?

    Abraços

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  5. Ai galera, os ciclistas do outro lado do mundo!... sobradinho planaltina, e outros da regiao da fercal tambem teram ciclovias?

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  6. Uirá, muito bom mesmo!! Registrou um bom número de flagrantes da urgência de intervenção do governo. E de um dos descasos dele apesar disso...

    Anônimos: o Pedala DF prevê sim que haja ciclovias em todas as cidades do DF e a integração entre quase toda a malha. As exceções, se não me engano, seriam as ciclovias de Brazlândia e de Planaltina, que ficariam isoladas.

    Mas ainda restam outros problemas, a começar pelo fato de que quase nada disso será feito, pelo fato de que ciclovia não é tudo e chegando à total indiferença quanto a um Programa de Educação Permanente de ciclistas e motoristas (que aliás já devia estar acontecendo, já que independentemente das ciclovias, o número de ciclistas vai aumentando).

    Sem educação e priorização dos e das ciclistas e pedestres, as ciclovias ainda pioram as coisas, porque reforçam a sensação de propriedade absoluta das ruas pelos carros, com todos os males que isso causa. E, queiram ou não, com 600, 1000 ou 3000km, enquanto houver carros sempre haverá a necessidade de ir aonde não há ciclovia e cruzar o caminho dos motoristas. Por isso, mais que as ciclovias é importante garantir que esses motoristas darão a preferência aos mais vulneráveis. Um excelente começo podia ser estabelecendo a velocidade da capacidade de reação humana no máximo de vias. Ou seja, uns 20 ou 30 km/h.

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  7. christian andré h. govastki16 de abril de 2009 às 08:47

    A ciclovia que liga São Sebastião aos Condomínios do Lago Sul também apresenta problemas no traçado e o asfalto vem sendo danificado pelos caminhões e tratores que estão implantando o Bairro do Jardim Botânico e a rede de alta tensão que está sendo contruída paralela a esta ciclovia.

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  8. Parabéns. Esse é um trabalho bem feito, mostrando que é preciso mais que propaganda para conseguir incluir os ciclistas no trânsito. É preciso entrosamento no próprio GDF entre seus diversos departamentos, para que uma via não seja consertada esquecendo a manutenção e sinalização do acostamento, o que vem acontecendo atualmente em 10 de cada 10 vias pavimentadas no DF.

    Só uma sugestão: não seria mais produtivo encaminhar essse seu trabalho para o pedaladf, jornais e outros sites de ciclismo?

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  9. Tentei mostrar a realidade de quem pedala e se depara com muitas dificuldades. Ao contrário do que afirmam os panfletos, nada existe de segurança aos ciclistas.
    Tenho buscado formas de denunciar o descaso no setor de transporte e cobrar melhorias. Comecei a investir, voluntariamente, na produção independente de textos e vídeos com base no material que recolho nas andanças e pedaladas rotineiras. Obviamente, torço para que os grandes veículos de comunicação fiquem antenados e também despertem para esses problemas.

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