segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mulher de bicicleta com cestinha vence Desafio Intermodal em Florianópolis

A edição de 2009 do Desafio Intermodal, realizado ontem em Florianópolis, terminou com a bicicleta chegando à frente dos demais meios de transporte. Surpresa? Nem tanto. É o segundo ano seguido que a “magrela” supera todos os outros veículos no teste para ver quem chega mais rápido no complicado trânsito da capital catarinense.

Mesmo assim, foi curiosa a cena de ver uma mulher chegando com sua bicicleta com cestinha antes de todos os outros participantes. A ciclista, Ana Carolina Vivian, 22 anos, fez o percurso da UFSC até o Largo da Alfândega pelo caminho Sul e completou o trajeto em 21min59s. Ana Carolina passou a pedalar no dia a dia há 2 anos, por influência do namorado. Tomou gosto pelas pedaladas e, na metade do ano, apresentou seu trabalho de conclusão do curso de Moda da Udesc com o título “Adequação do vestuário para o ciclista urbano”.

Pouco depois de Ana Carolina, chegaram, praticamente juntos, Alessandro Della Giustina, que fez o percurso Norte de moto em 23min08s, Luis Fernando Vaz Teixeira, que seguiu de bicicleta pelo caminho Norte em 23min19s, e André Geraldo Soares, que chegou 23min46s após ter saído de moto e seguido pelo Sul.

Esses resultados parecem ser suficientes para demonstrar que a bicicleta pode ser utilizada como um veículo ecológico, eficiente e veloz na região central de Florianópolis.

Os automóveis chegaram antes do transporte público no Desafio Intermodal. Quem veio pelo Sul demorou 26min07s de carro e 32min07s para cumprir o trajeto mais rápido de ônibus. Este foi o tempo que Roberta Raquel e Aline Terezinha de Souza demoraram usando a linha UFSC Semidireto. Em compensação, André Vinicius Mulho Costa, que pegou o ônibus Volta ao Morro Carvoeira Norte, levou 49min05s para fazer a rota Sul, tempo superior ao do participante que pegou a mesma linha no Desafio Intermodal do ano passado. Resultado semelhante teve o participante Fabiano Faga Pacheco, que foi de ônibus pelo trajeto Norte, sendo o último dos desafiantes a chegar. Pegando o Volta ao Morro Carvoeira Sul, Fabiano demorou 54min39s, cerca de 12min a mais que o participante que utilizou esse modal em 2008. “Tinha muito carro na rua e o ônibus não conseguia desenvolver velocidade”, disse Fabiano, que aproveitou o tempo para ler algumas páginas de um livro.

Excesso de automóveis nas ruas é dos principais motivos para explicar os constantes engarrafamentos que cada vez se agravam mais em Florianópolis. Com uma frota de cerca de um carro para cada 1,6 habitante, a capital catarinense ainda carece de investimentos em transportes público e não-motorizado. Mesmo sem ter um estudo de origem-destino desde os anos setentas, vários horários de ônibus estão deixando de existir e alguns trajetos estão sendo encurtados. As redes de ciclovias e ciclofaixas não estão interligadas e resta agora apenas uma pessoa em órgão público municipal para cuidar dos novos projetos cicloviários. Com isso, o sistema de bicicletas públicas da capital, o Floripa Bike, além das ciclovias de Coqueiros e circum-universitária vão ter sua implementação atrasada. Faltam bicicletários em diversos prédios públicos e terminais de integração de ônibus.

Esperanças futuras (?)

Florianópolis passou a ter corredores exclusivos de ônibus a partir de março de 2009. Com isso, as viagens de algumas linhas passaram a ser feitas em um tempo substancialmente menor. Ainda é pouco, mas um bom começo. Os corredores devem ser estendidos a mais locais. Inclusive ao Sul da Ilha, onde está em construção uma terceira pista no Rio Tavares. Uma pesquisa de origem-destino é urgente para conhecer melhor o quadro dos deslocamentos urbanos e, assim, planejar melhor o itinerário das linhas de transporte público.

Novas ciclovias estão sendo implementadas ou projetadas, como na Lagoa da Conceição ou em Coqueiros. Mas as ciclofaixas do Campeche e da R. Bocaiúva, bem como o passeio compartilhado do Ribeirão da Ilha e a ciclovia do Itacorubi ainda não foram finalizados. Em compensação, o último trecho da ciclovia da Av. Hercílio Luz deve ser inaugurado nos próximos dias. Se as obras já iniciadas forem finalizadas até o final do ano, algo provável apenas no Campeche e na R. Bocaiúva, e se a fiscalização conseguir inibir que automóveis estacionem sobre as ciclofaixas haverá um bom avanço. O risco que se tem quanto a um futuro melhor para quem usa bicicleta, patins e skate para se deslocar vem justamente do fato de haver apenas uma pessoa que cuida de tudo relacionado à bicicleta em Florianópolis quando a cidade já deveria contar com um departamento próprio para tratar do assunto, contando com uma grande proximidade e sintonia entre as Secretarias de Turismo, Cultura e Esportes, de Obras e de Transportes, Mobilidades e Terminais e o Instituto d Planejamento Urbano de Florianópolis.

A cidade obteve avanços na área do transporte não-motorizado, mas não deve parar por aí. Estimativas indicam que, na região central, houve um acréscimo de 80% no número de viagens por bicicleta, e surgiram, pelo menos, quatro novos grupos de ciclistas apenas em 2009. Há uma demanda reprimida de potenciais ciclousuários esperando maiores investimentos para tirarem as bicicletas às ruas.

Florianópolis precisa concentrar seus recursos na área de transportes para a mobilidade não-motorizada e o transporte coletivo, de preferência buscando integração entre ambos. Investimentos no transporte motorizado individual, ainda mais numa cidade em que a taxa de ocupação é de 1,4 pessoa por automóvel, só tendem a agravar o problema do trânsito, sem contar aqueles gerados pelas poluições sonora e do ar e pela violência social.

Desafio Intermodal 2009 - tabela

http://bicicletanarua.wordpress.com/2009/09/19/mulher-de-bicicleta-com-cestinha-vence-desafio-intermodal-em-florianopolis/

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