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Pra todo mundo
A inauguração da Praça das Bicicletas, na última sexta-feira, encheu de significado o espaço vazio bem no centro de Brasília

“Alô alô, bicicleteiros! A partir de hoje, oficialmente – mas não burocraticamente –, está inaugurada a Praça das Bicicletas.” Assim começou a noite em que o amplo espaço de concreto entre a Biblioteca Nacional e o Museu da República ganhou um nome e um sentido de convivência e integração mais humano.

Toda última sexta-feira do mês, o local é ponto de encontro dos participantes da Bicicletada. O evento reúne ciclistas interessados em reivindicar seu espaço nas ruas, o reconhecimento das bicicletas como meio de transporte na malha de trânsito, e condições favoráveis para a prática do ciclismo com segurança.
“A ideia é criar um espaço de referência pra um grupo de pessoas que tentam meios alternativos no trânsito e não conseguem”. Segundo Artur Sinimbu, ex-estudante de Ciência Política e cicloativista, andar de bicicleta em Brasília é um desafio diário. “O desafio de pedalar numa cidade construída para carros”.
Apesar do clima descontraído, não se trata de um simples passeio ciclístico. A força política do evento fica estampada no perfil da maioria dos presentes. O jornalista Pedro Poney participa ativamente da organização das bicicletadas, e afirma que até a palavra organização, aí, pode soar equivocada: “a gente brinca falando que isso aqui é uma coincidência organizada”.
Origem
A “coincidência organizada” tem uma amplitude maior do que se pode imaginar. A inspiração veio de São Francisco, nos Estados Unidos, onde movimentos em prol de uma vida sem automóvel acontecem desde 1992 e são chamados de Critical Mass. No Brasil, as iniciativas ganharam o nome de Bicicletada e acontecem, simultaneamente, em diversas cidades de quase 21 estados.
Em meio à pluralidade que a Bicicletada adquire – resultado das características do movimento em cada cidade onde acontece –, uma noção é comum a todos esses lugares: a crítica à sociedade do automóvel e a todos os problemas que dela decorrem. São evidentes os prejuízos à qualidade de vida que uma rotina diária em engarrafamentos, estacionamentos sem vaga e poluição podem causar.
Outra caracterís

Além de chamar a atenção para os aspectos alarmantes do trânsito em Brasília, a inauguração da Praça das Bicicletas foi um ato simbólico também por promover a ocupação do espaço público numa cidade tão pouco convidativa à interação entre as pessoas fora de limites privados. Entre apitos, balões coloridos e muitas bicicletas, após a fixação da placa nomeando a Praça, os participantes saíram a pedalar. Todos celebrando o dia em que, andando em grupo, os ciclistas tomam a pista e impõem um novo ritmo aos automóveis.
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