quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"mera coincidência" com a notícia anterior ...

Enquanto isso, na terra da fantasia...
Mortes na EPTG até agosto deste ano representam quase o dobro de 2009
Obras de revitalização da via dificultam ainda mais a travessia de pessoas no local

Naira Trindade

Roberta Machado

Publicação: 10/11/2010 08:20

Da banca montada em uma parada de ônibus às margens da Estrada Parque Taguatinga (EPTG), o vendedor de lanches Francisco Lima assiste diariamente ao risco que correm os pedestres, às freadas bruscas e até mesmo a batidas entre carros. Francisco garante que o movimento, que para alguns pode parecer assustador, é comum na via que separa o Setor de Indústrias e Abastecimento e o Setor de Oficinas. “Fico até chocado com a quantidade de dinheiro envolvido e a falta de segurança para os pedestres”, protesta o vendedor. “Muita gente escapa por um triz. Tenho dó de quem trabalha aqui, pois ninguém se acostuma com o perigo”, lamenta.

As estatísticas mostram o risco que motoristas e pedestres correm na EPTG. Segundo o Detran, de janeiro a agosto, foram registrados nove acidentes com morte na pista. É quase o dobro do número registrado em todo o ano de 2009, quando cinco acidentes fizeram vítimas fatais na rodovia.

Antes da instalação de faixas de pedestres e de passarelas, os pedestres já viviam uma difícil realidade na EPTG. As largas vias inacabadas, no entanto, tornaram a via ainda mais perigosa. Nas últimas semanas, familiares choraram a morte de dois trabalhadores vítimas de atropelamento, mas eles não são os únicos que perderam a vida na pista. Para minimizar os problemas, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) determinou ao Comando de Policiamento Rodoviário (CPRv) que disponibilizasse agentes para atuar no controle do trânsito da pista. As equipes, que começaram a trabalhar ontem, têm o objetivo de apoiar os pedestres durante a travessia nos horários de maior movimento até que as passarelas sejam concluídas.

No início da manhã e no fim da tarde, os policiais vão parar os carros para que os pedestres façam a travessia de forma segura. A assessoria de imprensa do DER não soube informar quantos policiais foram destacados para o trabalho.

Atraso oneroso
Primeira etapa da Linha Verde, a revitalização da Estrada Parque Taguatiga era esperada para abril deste ano. Toda a obra custou aos cofres públicos R$ 306 milhões. O ex-governador José Roberto Arruda pretendia promover uma grande festa para inaugurar oficialmente a via, plano que acabou abortado depois que ele deixou o cargo. Com atraso de mais de seis meses, o Governo do Distrito Federal liberou discretamente o acesso da via em 31 de outubro. Dois dias após a inauguração, um jovem de 21 anos morreu atropelado nas proximidades do Viaduto Israel Pinheiro. Ele foi atingido por uma Belina após ter atravessado três das quatro faixas da via principal. A vítima morreu na faixa exclusiva para ônibus, onde nem deveriam transitar carros.

Iniciadas no fim do ano passado, as obras da EPTG foram planejadas para facilitar o acesso de moradores de Taguatinga, de Águas Claras, do Guará e de Vicente Pires ao Plano Piloto. No entanto, trouxeram prejuízo aos pedestres que, sem passarelas, precisam driblar os 150 mil carros que cortam a rodovia diariamente. Em junho deste ano, Lea Viana Costa, 17 anos, perdeu a vida ao ser atropelada por um ônibus no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). No local, não havia parada de ônibus nem passagem para pedestres. Após a tragédia, o Departamento de Estrada de Rodagem improvisou pontos de travessia na pista.

Passagens duvidosas
 A escassez de paradas de ônibus obriga as pessoas que passam pelas pistas a correrem riscos em meio aos carros
A escassez de paradas de ônibus obriga as pessoas que passam pelas pistas a correrem riscos em meio aos carros

Ao todo, os 12,7km revitalizados ao longo da EPTG contam com 16 passagens para pedestres, sendo uma subterrânea. A maioria delas está em fase de conclusão. Em algumas, não há grades de proteção ou parapeitos para garantir a segurança de que passa pelos corredores estreitos de mais de quatro metros de altura. As passarelas ainda têm o acesso dificultado pelo acúmulo de terra e lama, que separam as calçadas das escadas. Com os obstáculos, os pedestres preferem caminhar até a faixa de pedestre mais próxima ou se aventurar entre os carros.

Romero de Araújo Silva, 37 anos, morador de Taguatinga, procura esquecer dos riscos ao disputar diariamente espaço com os carros na pista, pois desconfia da segurança das passarelas. “Elas não têm corrimão nem iluminação. Se não morrer da queda, morre atropelado.” A construção das passarelas em frente ao SIA, local com maior fluxo de pedestres, é mais atrasada. Enquanto algumas passagens são ignoradas, os trabalhadores do Setor de Indústrias correm para chegar com segurança nas paradas de ônibus. O maior número de mortes na EPTG foi registrado em 2004, quando 14 pessoas morreram ao envolver-se em acidentes.

Colaborou Adriana Bernardes


Outras vítimas
Em 3 de junho deste ano, Vanessa Coelho de Souza, 31 anos, teve morte cerebral diagnosticada após cair de carro em um buraco das obras. Em 17 de outubro, os irmãos Marcos Vinícius de Sousa, 23, e Marielle Araújo de Sousa, 22, também não sobreviveram após o carro em que eles estavam capotar na EPTG.

Operários
Na reta final das obras, cerca de 400 funcionários trabalham na EPTG. Eles se revezam das 5h às 22h, diariamente. Segundo a Secretaria de Transporte, o número varia de acordo com a etapa da obra. Dados do DER-DF informam que cerca de 150 mil veículos passam pela via todos os dias.

FAIXA DESRESPEITADA

Virgínia Maria P. Costa, 27 anos, operadora de telemarketing, moradora do Areal

“Todos os dias atravesso aqui, e os motoristas fingem não ver a gente. Antes era um Deus nos acuda, mas a faixa de pedestres não é garantia de travessia segura. Para eles, nós temos que passar voando por cima da pista. Não dá para esperar todos os carros pararem. Assim que o primeiro para você entra na faixa e vai sinalizando. Os motoristas passam de qualquer forma, desviam dos pedestres e ainda passam xingando. Por mais de uma vez, vi a hora de morrer, pois o carro parou muito perto de mim na faixa. Um amigo meu quase foi atropelado outro dia na pista do meio, onde a faixa de pedestres até hoje está pintada ao contrário. Até me arrepio só de pensar.”

MORTES NA VIA

2010 (De janeiro a agosto) - 9
2009 - 5
2008 - 8
2007 - 6

Um comentário:

  1. Peguei a EPTG até Ceilândia (de carro mesmo) duas vezes nos últimos dias. A situação é absurda. Os motoristas mais conscientes têm de praticamente provocar acidentes para respeitar os pedestres que tentam cruzar na faixa - como botar uma faixa de pedestre num trecho reto de 80 km/h sem quebra mola?!?!?!?!. Os (ir)responsáveis pela obra pensaram primeiro em concluir a pista para depois concluir as passarelas! E nenhuma otoridade faz nada.

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